sábado, 18 de fevereiro de 2006

O que quer, afinal, a Senhora Ministra???

A Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, em visita a uma instituição de ensino particular, proferiu, uma vez mais, afirmações perturbadoras acerca da actual situação vivida no ensino público português.
Diz a Ministra que "nos últimos anos, a escola pública foi encolhendo tanto que cumpre apenas os mínimos e está muito longe do que é essencial". Esquece-se a Ministra que são os professores, que tiraram uma licenciatura em especialização de ensino, que muitas vezes, têm de fazer de tutores (e até de pais) dos alunos e acompanhá-los na sua vida que vai para além da escola. Quantas vezes, na presença de pais que ignoram a vida escolar dos seus filhos, não são os professores que têm de os "apertar" e abrir os olhos desses pais que vêem a escola como o local ideal para depositarem os seus filhos?
Criticar a escola pública é muito fácil, sobretudo quando se elogiam instituições privadas com condições muito diferentes das que existem no sector público, seja em número de alunos por turma, seja no apoio de profissionais de outras áreas (psicólogos, educadores, profissionais de serviço social, entre outros) ou até no empenho das instituições locais...
E as soluções? Quais são? Acrescentar uma maior carga horária aos alunos, obrigando-os a estarem fechados em salas de aula de manhã ao final da tarde, com aulas normais, aulas de recuperação, actividades de substituição, aulas de apoio e frequência de clubes escolares? Não me parece, pois até os alunos se queixam da situação... E continuarmos a ter um 3º ciclo do ensino básico, onde as taxas de insucesso e abandono escolares são as maiores, com um número tão elevado de disciplinas, obrigando à redução da carga horária de cada uma? É solução? Também não me parece...
Ora, dito isto, esperam-se medidas importantes em termos de reformulação dos currículos escolares!!! É que não chega criticar a escola pública...

8 comentários:

Anónimo disse...

Sou docente há 31 anos e começa-me a faltar a paciência.

Artur Coelho disse...

Qual é a escola privada que não selecciona alunos? É para eles fácil apresentar resultados: alunos fracos ou com problemas comportamentais são rapidamente afastados. Quando a alunos abrangidos pelo dl 319, há colégios privados que afirmam prestar serviço público que recusam a matrícula desses alunos. A escola pública que os aguente. Não cabe aos privados prestar o nobre serviço que é assegurar a esclaridade às populações; certo é que sem obrigatoriedades de inclusividade, as escolas privadas se arrogam de uma superioridade sobre as públicas com base em resultados à partida distorcidos.

Anónimo disse...

Não deixa de ser curioso que as escolas básicas e secundárias privadas têm uma enorme procura, enquanto que no ensino universitário acontece precisamente o contrário.
Porque será? No dia em que os professores (enquanto classe) das escolas públicas quiserem ser sérios(no sentido intelectual), encontrarão certamente a resposta para a situação.
Perto de trinta anos a fazer experimentação pedagógica com os filhos dos outros(sem responsabilização alguma), fez com que quase ninguém tenha já pachorra para aturar as vossas eternas queixas.

Pedro disse...

Caro anónimo, onde é que acontece e em que circunstâncias se verifica essa procura enorme pelas escolas secundárias privadas? Em Lisboa, Porto e Coimbra por parte de alunos que são filhos de pessoas da classe média-alta e que sabem que as turmas que irão frequentar terão poucos alunos e melhores condições de estudo??? Para além de que sabem que alunos problemáticos e indisciplinados não farão parte dessas escolas???
Convém dizer toda a verdade...
Apenas mais uma questão: porquê a sua insistência no anonimato???

Anónimo disse...

Apenas mais uma questão: porquê a sua insistência no anonimato???
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Insistência? Pois se é a primeira vez que aqui comentei....(ou então já não me recordo da última)
Diz que em Lisboa, Porto.... filhos da classe média-alta,etc. Vai me desculpar, mas que raio de argumento é este? Se são privados custam dinheiro, logo só estão ao alcance de quem pode pagar. As classes com pouco poder de compra obviamente que não podem escolher o ensino para os seus filhos (nos sítios em que podem, existência de escolas privadas com contrato de associação, optam por estas e desertificam as públicas à volta).
De qualquer forma, quero corrigir o meu comentário anterior naquilo a que se refere às escolas secundárias. Se é verdade que a opção pelo privado, por parte de quem pode, é clara no ensino básico, já não é tão verdadeiro o mesmo para o secundário. Mas atenção, a razão não abona muito em favor do ensino público…e de um certo privado…
Quanto ao anonimato, questão que tanto o importuna, deixe-me dizer-lhe que é algo absolutamente vulgar num espaço aberto como é a blogosfera. Sendo o seu blogue (o qual visito quando tenho tempo) aberto a comentários, sem requisitos prévios, não vejo a necessidade de comentar com um nome, o qual poderia ou não ser fictício. Não me sirvo do meu anonimato para atacar de forma menos própria alguém em particular, mas não me abstenho de tecer considerações, menos simpáticas, sobre interesses que considero corporativos e exclusivamente profissionais (no pior sentido dos termos). Considero aliás, que só anos e anos de erros e omissões de toda uma classe, é que permitiram que uma ministra perfeitamente demagoga, como esta é, tenha a aceitação pública que tem.
Tinha o jovem colega apenas uns poucos meses a mais do que tem hoje a razão da sua vida, e começava eu na profissão que nos une. São muitos anos a ver coisas que não podiam ter acontecido. São muitos anos a ouvir uma minoria, que se apossou por completo de toda uma classe, maioritariamente honesta, a defender o indefensável. Não, para este peditório não dou, porque em vinte e oito anos também nunca dei.
A conversa poderá continuar, mas por outras vias e veredas. Se tiver interessado poder-lhe-ei enviar a morada de e-mail, e desta forma dar continuação a uma conversa, cujas posições não me parecem tão antagónicas quanto isso.

Anónimo disse...

É com esta perspectiva, do anónimo, que o presente governo legisla - esta 'opinião pública' necessariamente desinformada e cuja visão da 'educação' é: se não aprendem a culpa é dos profs.
Se os incêndios proliferam a culpa é dos bombeiros?
Se as pessoas morrem a culpa é dos médicos?
Se vão presas, ...dos advogados de defesa?
Que visão tão pobre e redutora!...

Anónimo disse...

Só mais uma adenda. Existem duas unicas categorias de ensino.O bom, e o mau. Tudo o resto caiu com o muro.

Pedro disse...

Caro Anónimo, a referência e insistência ao seu anonimato deve-se ao facto de ter comentado o anterior artigo com a mesma "assinatura". Ou não terá sido você?
Quanto às questões de fundo, afinal talvez sejam mais as afinidades de opinião que nos aproximam do que as diferenças. Contudo, convém referir que muito do que a Escola Pública tem de menos bom se deve em grande medida à própria (in)acção do Estado e ao papel redutor das associações que se dizem representativas dos docentes...
É a velha máxima: por causa de uns , pagam todos...