segunda-feira, 7 de abril de 2008

A indisciplina, os pais e a (falta de) lógica dos números...

Há quem pense que a análise dos números oficiais do Ministério da Educação sobre as situações de violência e indisciplina nas escolas constitui condição suficiente para avaliar até que ponto é que as escolas são locais mais ou menos seguros. Aliás, o presidente do Conselho das Escolas, Álvaro Santos, defende que os estabelecimentos de ensino são dos lugares mais seguros da sociedade. Só alguém que ande muito distraído é que pode afirmar algo deste género.
Desde logo, porque todos (ou quase todos, pelos vistos) sabemos que os números oficiais sobre tudo o que diga respeito a violência (seja verbal ou física, seja na escola ou fora dela) ficam sempre abaixo da realidade e estão sujeitos a factores diversos que impelem ou não à sua denúncia.
Só alguém muito distraído é que não percebe que o bulling nas escolas é uma realidade que nada tem que ver com as partidas e brincadeiras que os alunos realizavam há 20 anos atrás na escola. Hoje, temos uma situação em que basta percorrer os corredores das escolas ou frequentar os seus espaços de recreio, já para não falar das próprias salas de aula, para perceber que a violência entre alunos constitui uma realidade banal e rotineira das nossas escolas.
Uma forma de alterar a situação actual passa por termos um Estatuto do Aluno exigente para com os alunos e os seus pais. O mais recente é o que sabe: facilitista e nada exemplar. Desde logo, temos o erro gravíssimo de se minimizar o facto do aluno incorrer em faltas injustificadas. Por outro, há que ser consequente. Quando o Estatuto do Aluno refere que "aos pais e encarregados de educação incumbe, para além das suas obrigações legais, uma especial responsabilidade, inerente ao seu poder-dever de dirigirem a educação dos seus filhos e educandos, no interesse destes, e de promoverem activamente o desenvolvimento físico, intelectual e moral dos mesmos", o referido Estatuto deveria prever consequências não apenas para os alunos, mas também para os pais quando o aluno demonstrasse um comportamento incorrecto. Porque não retirarem-se privilégios em sede de abono de família ou em termos fiscais? Talvez assim os pais negligentes abrissem os olhos...

7 comentários:

Anónimo disse...

Acho que seria uma forma óptima de responsabilizar os pais.Se todos têm responsabilidades e porque não?

visiense disse...

Concordo com o facto de andarem a agir como a avestruz que enterra a cabeça na areia e finge nada ver. A realidade é que os números que aparecem são incrivelmente abaixo da realidade... Agora, como aluno que fui no ensino básico há 15 anos, posso dizer que o bulling não é uma coisa de agora. Eu próprio sofri na pele... Simplesmente antes a proximidade professor-aluno era mais afastada, e muita coisa não passava para eles. No entanto, e apesar deste reparo, posso afirmar que este fenómeno aumentou, mas não apenas este. Também a violência contra professores e a indisciplina (no seu sentido mais lato) aumentaram fortemente.

A Professorinha disse...

A violência de que falam não deve incluir a violência psicológica que nós sofremos muitas vezes nas mãos dos garotos...

Beijos

Anónimo disse...

Acho conveniente que se consciencializem os pais que ainda não se aperceberam do problema, mas o que fazer àqueles que são insensíveis aos apelos de socialização dos seus filhos, nomeadamente os pais atípicos? que não têm educação e por isso como podem ministrá-las aos filhos? que respostas tem o sistema para estes casos? Choramos todos?

Zé da Burra o Alentejano

Veja aqui: http://forreta.blogs.sapo.pt/120190.html

LeniB disse...

Há escolas onde já funcionam aulas para os pais que estão dispostos a ser ensinados a como ensinar e educar os seus filhos. Pena serem muito poucas.

Adriana Roos disse...

Estão falando do Brasil?
Pois tudo tão igual... a mim parece que estamos todos então fadados ao mesmo problema!
Professores de Portugal e Brasil, socorro!

Meu desabafo:
http://rioparaiba.blogspot.com/

Fernando Vasconcelos disse...

Concordo a 100%. Como pai nunca me demiti da minha função de educador. Ainda hoje apesar do meu filho ter já 16 anos continuo a acompanhar de perto tudo o que está relacionado com a sua educação e não me inibo de o castigar quando necessário e sobretudo de o fazer respeitar os seus professores. Porém acho curioso que para eu poder falar com um dos professores tenha de passar pela autorização do coordenador de ano. Porquê ? É assim que pretendem fomentar a responsabilização? Ou será que paga o justo pelo pecador ? Porque razão se procura afastar tanto os pais do dia a dia da escola (não apenas no caso que citei ...)