sábado, 10 de setembro de 2005

Diferentes entre iguais

Todos os anos, com o início de um novo ano lectivo, há um tema de conversa que costuma vir sempre à "baila" no meu grupo de amigos: o estatuto da carreira docente. E, isto porquê? Muito simples. É que uns de nós somos professores do 3º ciclo e ensino secundário, enquanto que outros são educadores de infância ou leccionam no 1º ou 2º ciclos do ensino básico.
Ora, a conversa que todos os anos é recorrente anda à volta do estatuto que rege as nossas carreiras. Enquanto que uns defendem a actual uniformização de direitos e deveres entre professores de diferentes ciclos de ensino, outros há (como eu) que são a favor que, tal como existe uma carreira específica de docente universitário, distinta da do docente do politécnico, também deveriam existir carreiras diferenciadas para professores que leccionam em ciclos distintos: ser educador de infância não é o mesmo que ser professor de alunos do 12º ano de escolaridade.
Aliás, sem querer ofender ninguém, penso que, em termos de exigência e de responsabilidade, um docente do ensino secundário está muito mais próximo do que se exige a um docente universitário do que aquilo que se pede a um educador de infância ou professor do 1º ciclo. Bem sei que este é um assunto delicado, mas não percebo o que levou, há quinze anos atrás, o Ministério da Educação de então a colocar no mesmo "saco" educadores e professores de níveis diferentes. Os enfermeiros também não se regem pelo estatuto dos médicos. Aliás, até têm sindicatos diferentes...
Não tendo nada contra os educadores de infância e os professores do 1º ciclo, até porque desempenham uma função primordial na formação das nossas crianças, penso que não faz sentido termos 12 anos de escolaridade mais o ensino pré-primário assentes numa única carreira profissional. O que é diferente deve ser distinguido e não encapotado...
Por isso, penso que se deveria criar um novo estatuto da carreira docente, que abarque apenas os docentes do 3º ciclo e do ensino secundário. Ficaríamos, desta forma, com um regime para os educadores de infância e docentes do 1º e 2º ciclos e um regime diferenciado para os professores do 3º ciclo e secundário. Assim, voltaríamos ao que sempre esteve instítuido (e bem, quanto a mim) até 1990, quando o então Ministro da Educação Roberto Carneiro optou pelo actual regime....
Entretanto, as nossas conversas de café sobre o estatuto da carreira docente lá irão continuar...

17 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo, concordo contigo quando referes que o trabalho que um educador de infância ou um professor do primeiro ciclo exercem não é o mesmo que o de um professor do 12ºano e por isso até considero que este último deveria ser melhor remunerado.
Mas já discordo contigo quando colocas os professores do 2º ciclo no mesmo ramo que os professores do 1º ciclo e educadores de infância. É certo que um professor do 2º ciclo também pode dar aulas ao 1º ciclo, mas o trabalho exercido nesses ciclos é muito diferente. Até nos conteúdos leccionados vai uma grande diferença. Eu que o diga! As funções docentes do 2º ciclo são mais parecidas com as do 3º ciclo. Eu que já leccionei aos três ciclos referidos posso, por experiência própria, falar abertamente neste assunto. Agora no que se refere ao vencimento acho que pela diferença de conteúdos e o diferente grau de exigência dos mesmos este deveria ser diferente consoante o nível de ensino. Pois o dilema que rege o País é quanto mais se exige de um trabalhador maior será o seu reembolso.
Cumprimentos. Pati

(Pa)Ciência disse...

Bom, e então que dizer de Agrupamentos que englobam Educadores, 1º, 2º e 3º ciclo... e depois o secundário à parte! Sinceramente ainda não percebi muito bem qual foi a lógica. Quanto à remuneração acho que devia ser igual, o 3º/sec (meu caso) pode exigir mais nuns aspectos mas os educadores têm certamente outras exigências (a minha melhor amiga é educadora e já a vi fazer coisas que para mim tinham que se lhe diga). Por último, discordo totalmente que os profs de 2º ciclo (que têm variantes) possam leccionar 1º ciclo (profs de ed. física a ensinar os meninos a ler...). Aliás, nem percebo porque existem os cursos para leccionar só 2º ciclo, depois lá vão eles "roubar" lugares aos do 1º ciclo que ficam todos chateados e com razão. Por exemplo, pq não posso eu dar ciências da natureza no 2º ciclo se aquilo que dou no 3º e sec é o mesmo mas mais aprofundado? Bom, estou para aqui a divagar! Beijinhos!

Miguel Pinto disse...

Miguel
Que alterações sugeres?

Pedro disse...

Caro Miguel, o que eu sugiro, por exemplo, é que as condições remuneratórias de um educador de infância sejam diferentes das de um professor do ensino secundário (este deverá ser melhor remunerado pelo trabalho mais exigente que desempenha).
Por outro lado, acho que um professor do ensino secundário deve ter uma componente lectiva mais reduzida que a de um professor do 1º ciclo, pois estes não têm mais de 30 alunos, enquanto que um proessor do secundário pode chegar a ter 200 alunos ou ainda mais.
Posso ainda acrescentar a necessidade que deve existir de um professor do ensino secundário dever ter um maior número de dias para formação do que as detidas por um educador de infância...
Bem, estes são apenas alguns dos aspectos onde penso ser necessário existirem diferenciações entre docentes destes diferentes níveis de ensino.

AnaCristina disse...

Sinceramente não sei se esse será o caminho...
Põe-se a questão: se o prof do 1ºciclo não ensinar a ler bem, no secundário as coisas não correm bem aos profs, certo?
Não sei se a questão remuneração será o melhor mas concordo contigo quando falas na diferenciação. Somos diferentes e apoio alterações que promovam essa diferença mas não se deve colocar a questão no ordenado mas sim nas condições de trabalho e na avaliação dos professores.

Anónimo disse...

Quanto a remunerações... é uma questão de perspectiva. Não sei se ainda é assim, mas, até pelo menos há uns anos, na Suiça (tenho lá família, por isso sei)a maior remuneração era para os professores dos primeiros anos de escolaridade, e eu compreendo isso. Quanto aos professores do Secundário, já têm uma compensação de menos 2 horas lectivas que os do 2º e 3º ciclos.
E não entendo a ideia de separar os professores do 2º ciclo dos dos ciclos seguintes, o que não devia ter acontecido é baixarem as exigências de formação para o 2º ciclo. Eu, por exemplo, tenho habilitação académica (e tb profissional) para 2º, 3º e sec., efectivei-me muito cedo no 2º Ciclo, mas há uns anos que (escola 2,3) só lecciono 3º ciclo). A que ECD ficava a pertencer, na proposta dos ECDs diferentes?
E...serão positivos temas sobre "separações"?

Anónimo disse...

P.S. Miguel, o que é que sempre esteve instituído até 1990? Não percebi, e conheçi 2 décadas de ensino até 1990. O que sei é que conquistámos um estatudo da carreira docente (não universitária), e os actuais ataques a ele estão a atingir todos.

Anónimo disse...

Miguel, comentei sobre o tema, mas com todo o respeito pelas opiniões diferentes. (Desculpa os comentários aos soluços, mas, metida num trabalho ainda a esta hora, fui passando pelos blogs com demasiada rapidez.

Pedro disse...

Caro IC, penso que até 1990 esteve instituído, em termos de estatuto da carreira docente, a diferenciação entre o conjunto formado pelos educadores de infância e professores do 1º ciclo e o conjunto dos professores dos 2º e 3º ciclos e secundário. Depois, com o DL n.° 139-A/90, de 28/04 todos estes docentes foram equiparados ao mesmo estatuto...

Anónimo disse...

Sou professora do 1º Ciclo, com bacharelato, licenciatura e mestrado. Invisto na minha profissão e na minha formação. Por que razão teria um estatuto remuneratório diferente de outros nas mesmas condições?!? Outros, até em condições 'menores'...
A responsabilidade não pode ser proporcional ao tamanho, em centímetros, dos alunos. Estou mesmo a ver que a disciplina mais difícil de ensinar de todo o currículo é, naturalmente, a Geografia...
De facto, considero-me diferente. Não consigo nem comentar... tal é a tristeza de ver professores a pensar dessa maneira.
Desculpe a minha frontalidade e até algum sarcasmo que possa 'ouvir' nas minhas palavras.

Pedro disse...

Cara colega "anónima", as diferenças que penso existirem entre os educadores de infância e professores do 1º e 2º ciclo e os restantes docentes do 3º ciclo e ensico secundário têm sobretudo que ver com o tipo de formação que tiveram. Enquanto que a maioria dos primeiros estudaram em ESE`s, os segundos tiveram que tirar uma licenciatura numa universidade.
Por outro lado, o que eu defendo é que o facto de se leccionar a 200 alunos implica um maior esforço do que ter uma turma de 30 alunos, pelo que deverão existir contrapartidas de redução horária para quem tem um maior número de turmas.
Outra questão prende-se com a formação contínua: tem que concordar que tirar um mestrado de cariz científico não é o mesmo que tirar um mestrado de âmbito pedagógico, pelo que os professores do secundário deveriam ter a obrigatoriedade de fazerem "créditos", não em acções de formação como as que existem agora (muitas são de bradar aos céus!!!), mas sim no âmbito da sua formação científica, por forma a actualizarem conhecimentos, pelo que deveriam ter uma maior redução de componente lectiva nestes casos.
Note-se que nunca coloquei em causa a importância que o ensino primário e pré-primário detêm na formação das crianças.
Muito mais poderia dizer, mas voltarei ao assunto mais tarde.
Quanto ao seu pedido de desculpas, considere-o como aceite, esperando que regresse mais vezes de espírito aberto e com a frontalidade que a caracteriza.

Anónimo disse...

Vai desculpar-me de novo... mas:
- não entendo essa de ser remunerado 'à cabeça';
- não entendo essa de haver mestrados melhores que outros. São todos ministrados pelas faculdades (pertencentes às universidades) deste país (e de outros, claro);
- não entendo como pode achar que, por exemplo, um economista formado por uma faculdade pode ser melhor professor de Português do que um PROFESSOR formado por uma ESE nessa área específica;
- não entendo como pode pensar que as necessidades de formação dos professores são todas de cariz científico (olhe que saber muito de Matemática não dá, forçosamente, saber ensinar, e bem, Matemática);
- não entendo por que razão somente os professores do secundário deviam ter redução da componente lectiva para a sua formação. Olhe que a formação permanente, antes de um DEVER, é um direito do professor... e qualquer professor deve ter esse DIREITO.
- só entendo essa parte em que diz que há formação que envergonha qualquer professor. Por isso é que ele DEVE saber o que quer da sua formação e (ainda) PODE escolher que formação deseja ter e, consequentemente, que profissional quer ser.
E eu sei que não põe em causa a importância do pré-escolar e do 1º ciclo... mas parece que põe em causa, e considero isso grave, a importância tanto dos educadores de infância como dos professores do 1º ciclo e, também, do 2º. Desvaloriza a sua formação, o seu profissionalismo e a sua atitude face à profissão. Infelizmente, não é o único a pensar assim e isso é preocupante, na minha opinião.
Ufa! É mais rápido falar do que escrever. Isto dava uma tese de doutoramento!!!! Já não sinto as pontinhas dos dedos..

Pronto para recomeçar este ano lectivo? Espero que esteja na escola que colocou em 1º lugar!!!
Um abraço e bom fim-de-semana.
Maria

O meu nome é Maria. Maria mesmo.

Anónimo disse...

E já agora... fui espreitar "view my complete profile" e descobri que temos algo em comum. Os Xutos, pois claro! Eu, que sou fã desde os Contentores, ainda me é difícil escolher a preferida... mas Tentação é uma delas seguramente. E o filme também. E sabe que no ano do filme estava eu a trabalhar na localidade onde foi filmado (Vila Flor) e foi mesmo engraçado ver caras conhecidas no ecrã?!?!?...
E hoje ouvi de uma ponta à outra os 2 cd's do concerto do Pavilhão Atlântico, oferta recente do meu mano!

Maria

«« disse...

Acho que deve haver uma diferenciação positiva, que não tem que estar afirmada na diferença de ordnados (já penso o mesmo entro os do ensino superior, e nos do ensino inferior), mas sim na relação numero de horas lectivas/ hora de preparação de aulas.

João Soares disse...

Viva Miguel
Por casualidade fui ver o teu perfil e vi que somos do mesmo signo:)
Felicidades para o novo ano lectivo que se avizinha.
Quando tiver tempo linkarei o tue blogue.
Um abraço
BioTerra

Anónimo disse...

OLÁ PEDRO boa tarde

Vim ao teu blogue e fiquei estupefacta...parva com o teu comentário.
Desculpa...mas discordo completamente .
Acho que somos todos docentes e não deve haver diferenças entre nós ..só lá porque leccionamos níveis diferentes...e devo-te dizer que a educação pré-escolar é é a mais importante.É a base . e nós Educadores é que sabemos como é tão árdoa a nossa tarefa.
Nós é que preparamos, estimulamos os vossos futuros alunos.
E mais...na sociedade que vivemos onde a educação familiar anda muito aquem....sem estrutura, sem força..onde os Pais não têm tempo..nem disponibilidade para os "aturar", cada vez mais temos um papel importantissimo na formação das crianças..e não só tb dos Pais.
desculpa a frontalidade Pedro mas acho que nunca deveria nem deve ser feita uma comparação entre os diferentes níveis de ensino..porque isso é inferiorizar uns e beneficiar outros...AFINAL SOMOS TODOS DOCENTES!!!!.

DESCULPA..mas tenho a certeza que não sou nem serei a única a ter a mesma opiniaõ....

fica bem. bjs

Pedro disse...

Cara Isabel, desta discussão podemos concluir que há opiniões divergentes sobre a mesma matéria e que, quer queiramos, quer não, a nossa classe profissional encontra-se dividida...
Percebo a tua posição, pois um educador desempenha um papel fundamental na formação dos futuros homens e mulheres deste País. No entanto, o trabalho de um educador de infância e de um professor do secundário, quer queiras, quer não, é diferente, pelo que, quanto a mim, não faz sentido ambos estarem sob a alçada de um mesmo estatuto profissional...
Beijocas