quarta-feira, 14 de setembro de 2005

O problema dos números

Segundo o mais recente estudo vindo a público sobre o estado da educação nos países da OCDE, Portugal apresenta, como seria de esperar, alguns problemas ao nível da frequência e do sucesso escolar dos nossos alunos. No entanto, os números do referido estudo dão também conta que os professores portugueses são dos que menos tempo passam na escola.
Ora, resolvi tentar fazer uma pequena abordagem aos números constantes no estudo da OCDE, comparando-os com o tempo que, normalmente, todos os anos costumo passar na escola...
Vejamos então: no relatório intitulado "Education at a Glance 2005" é referido que os professores portugueses do 3.º ciclo passam 766 horas por ano nas escolas (menos 426 horas que a média dos colegas do mesmo nível de ensino da OCDE) e os do secundário 696, isto é, menos 432 horas.
No meu caso particular, e referindo-me apenas ao ano lectivo que passou (quando ainda não estavam em vigor as actuais regras de aumento da componente não lectiva), fiz as contas que se seguem. Só em aulas, passei na escola uma média de 22 horas por semana, o que equivale a um total anual de 660 horas, tendo em conta que o ano lectivo 2004/2005 teve, devido aos problemas iniciais, apenas 30 semanas de aulas. Depois há que acrescentar uma média de "só" 5 horas semanais em reuniões, o que perfaz mais 150 horas anuais. Se a isto somarmos mais uma média de somente 2 horas semanais (60 anuais) correspondentes a horas de furo no horário aproveitadas para correcção de testes, marcação de faltas e restante trabalho de Direcção de Turma, dá um total de 870 horas anuais apenas em tempo de aulas. Finalmente, há que não esquecer os dias que tive que ir à escola, já depois das aulas terem terminado, nos meses de Junho e Julho, para trabalhar nas provas globais, exames nacionais, matrículas, finalização do PCT e outras burocracias, num total de cerca de 120 horas (8 horas x 15 dias). Assim, fazendo as contas por baixo, no ano transacto devo ter passado na escola, pelo menos 990 horas, o que está longe das 766 que o estudo da OCDE refere...
Claro que por causa de uns (que pouco trabalham na escola e que já têm reduções e outros benefícios) "pagam" os outros, geralmente, os professores mais novos. Deve ser o meu caso. Ora, tendo em conta que este ano vou ter 8 turmas (quase 200 alunos) e outros tantos conselhos de turma todos os meses, mais as horas correspondentes à componente não lectiva que a escola institui, devo chegar às 1100 horas anuais. Ou seja, estou perto dos melhores números da OCDE...
Ah, já agora, e sabendo que não são horas passadas na escola, só quero acrescentar 2 horas diárias passadas ao volante, o que dá um total de quase 400 horas anuais. Pois é, os números também enganam...

1 comentário:

AnaCristina disse...

E quem fala assim não é gago...

Por baixo, também concordo com esse valor... não tenho mais de 40, não sou QE, não tenho negócios por fora, não vou candidatar-me nas autarquicas... tudo isto parece dar reduções, inclusive horarios pequenos porque se ganhar eleiçoes não vai ficar na escola e o contratado que vier fica com poucas horas...

Cá 'temos!! (cá estamos em alentejano da minha terra)