domingo, 5 de fevereiro de 2006

Internet nas escolas: um recurso a valorizar...

Há uns dias atrás o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior afirmou, com grande pompa e circunstância, que todas as escolas públicas do país se encontram ligadas à Internet de banda larga. O tom com que esta novidade foi dada e que, pelos vistos não corresponde inteiramente à verdade, denota um erro de análise. É que a Internet nas escolas não deve ser encarada como um fim em si mesmo (como o Ministro pareceu dar a entender), mas apenas como um meio que apenas terá resultados práticos na vida dos alunos e professores se muitas outras condições estiverem ao dispor da comunidade educativa das nossas escolas.
Desde logo, interessa que nas escolas básicas dos 2º e 3º ciclos e que nos estabelecimentos do ensino secundário, este importante recurso seja maximizado, não apenas nos tempos livres dos alunos, mas nas próprias aulas, no sentido de utilizar a Internet como ferramenta de aquisição e aplicação de conhecimentos. Neste sentido, é imprescindível que os docentes saibam aproveitar todas as potencialidades concedidas pela Internet, o que, creio eu, ainda não é uma realidade em muitas escolas deste país. Por outro lado, é necessário dotar as escolas de materiais audiovisuais essenciais, como por exemplo os projectores Data-Show ou os quadros electrónicos, que permitem a utilização da Internet nas próprias aulas, para além apetrechar as escolas de computadores em salas de aula especificamente destinadas à leccionação de matéria com recurso à Internet.
Por outro lado, penso que nas escolas do 1º ciclo não se deve abusar deste recurso, até porque a experiência diz-me que este nível de ensino é determinante na forma como a leitura, a escrita e a matemática poderão ser potencializadas no futuro. Muitas vezes, fica-se abismado como alguns alunos chegam ao 5º ano de escolaridade com uma caligrafia indescritível e uma incapacidade preocupante em termos de leitura de textos, pelo que nos primeiros quatro anos do ensino básico é imprescindível que se desenvolvam este tipo de capacidades nos alunos, em vez de "brincar" com a Internet.
Esperemos que o esforço desenvolvido por este e os anteriores Governos em matéria de apetrechamento tecnológico das escolas portugueses não se fique por aqui e que se continue a dotar as nossas escolas das condições adequadas ao melhor desenvolvimento possível do processo de ensino-aprendizagem. A bem do sucesso escolar...

11 comentários:

Anónimo disse...

Olá boa noite Pedro

Acabei de ler o teu artigo e estou inteiramente de acordo contigo.
Nem todas as escolas têm computadores com Internet( a minha é uma delas)enquanto que noutras até tem computadores a mais.E, como dizes sem outras condiçoes para usufruirem da net(como tu disseste...projectores....)
E muitos docentes não têm formação para lidar com um computador...ficando de lado e nem se preocupam em ter formação, nem alertam a secretaria de educação).Não há uma organização a nesse ponto.
Concordo contigo, quando dizes que nas escolas do 1ºciclo não devem abusar da net e sim dedicarem-se a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática....é importantissimo.

Falas da caligrafia indiscritivel e de uma leitura insuficiente, pois é muito lamentável...e penso que isso deve-se a maioria das crianças em casa estarem em frente de um computador a escreverem metade das palavras e a inventarem palavras que nem eu percebo. Digo isto porque nestes dias estava na Direcção Regional de Junventude e lá temos acesso a Internet e vejo muitos jovens e até crianças a verbalizarem um vocabulário estranho.( é o tal "brincar" que falas)

Para terminar este meu comentário apenas queria trocar uma experiencia relacionada com a falta de recursos....
Na semana passada tive uma reunião de Pais e a secção foi apresentada em Power Point...tive de levar o meu computador , o Projector tive de o pedir ao Presidente da Junta de freguesia e o "meu" quadro electrónico foi um pedaço de papel cenário...

fica bem

Anónimo disse...

É de facto vergonhoso quando algum responsável por este país se vem engrandecer porque todas as escolas deste país já estão ligadas por internet de banda larga. Conhecerão estes senhores a realidade vivida nas escolas, ou os seus gabinetes serão imunes a esta realidade? Na escola onde estou este ano (somos 119 professores) a sala dos directores de turma tem 2 computadores e a sala de trabalho tem outros 3. Com uma agravante: um deles é tão avançado, tão avançado que não recebe além do Windons 98. Para além disso esse e outro computador nem sequer tem portas USB.
São como vêm computadores muito avançados. Para que queremos nós a internet de banda larga???

Adkalendas disse...

Pois é, continuamos a praticar um desporto tipicamente português.
Dêem-nos o que queremos que nós dir-vos-emos o que falta...
Isto para dizer que não concordo com algumas perspectiuvas pessimistas que vejo por aqui.
Se não houvesse Internet nas Escolas, era porque não havia. Se há, é porque não há computadores...etc., etc.
E se fizessem uns projectozinhos e concorressem a apoios financiados para a aquisição desses computadores?
Não seria má ideia, pois não?
Caramba, que a memória é curta. Já não se lembram que quem colocou a Internet em todas as Escola foi o Ministro Mariano Gago há cerca de 4 anos, e que depois o governo mudou e os apoios para esse programa acabaram?
Agora ele vem assumir um projecto cumprido e leva pancada?
Certo que faltam computadores, mas querem tudo de um dia para o outro e sem sequer utilizarem o que têm?
Sinceramente!

Pedro disse...

Caro fr, a sua atitude parece ser de conformismo, enquanto que a minha parece ser mais de inconformismo e confronto da situação perante a realidade.
De facto, tal como não se começa uma casa pelo telhado, também não se deve avançar com a inovação tecnológica nas escolas (assente na Internet de banda larga) se as mesmas não tiverem condições básicas em termos de recursos e materiais, para além de meios humanos capazes de rentabilizar tais recursos.
O meu contributo é mais o de avançar com uma critica construtiva, alertando para a realidade de muitas escolas e não tanto o de criticar por criticar...
Se há dinheiro para submarinos, TGV e Ota porque razão não há dinheiro para formação a sério dos docentes e para equipar as escolas com materiais a sério???

Adkalendas disse...

Caro Miguel eu não sou propriamente um conformista. Explico porquê.
Quando a Internet chegou às escolas, pela Uarte, comecei logo a usá-la e a dinamizar actividades para alunos e professores.
Quando o ME criou os programas Nónio, elaborei um projecto, e consegui financiamento para comprar mais computadores, que liguei ao que tinha Net, e fiz, com colegas, uma rede.
Esta rede permitiu conseguir concretizar mais projectos.
Entretanto, a utilização da Internet alargou-se, na minha escola.
Com dinheiro de projectos em que participámos, comprámos projectores PowerPoint e hoje, quando preciso, e só quando é conveniente, utilizo a Net nas aulas e apresentações com computador.
Não me parece que isto seja ser conformista, bem pelo contrário ;)
A alternativa era ficar parado à espera que viessem mais computadores, quadros electrónicos, e essas coisas todas...até hoje...
Claro que falta muita coisa, mas o que determina a sua falta é mesmo a sua necessidade e utilização.
Só tentei inverter um pouco a lógica de nos queixarmos sempre quando já temos, por vezes, as coisas à nossa disposição.
Ah! E continuo a exigir mais, mas não para mim, para os meus alunos.
Infelizmente, o número de utilizadores das TIC nas escolas é ainda muito reduzido, em relação às minhas expectativas.
Ah! e a memória é curta, em resposta aos comentários que li sobre o Ministro da Ciência...

Pedro disse...

Pois bem, caro fr, quem fala assim não é gago, mas também não deve ser daqueles professores que todos os anos "salta" de escola em escola... É que avançar com projectos com o risco de ficarem a meio não dá muito ânimo...
Quanto à iniciativa para avançar com projectos dou-lhe toda a razão, mas também há que compreender que para alguma coisa servem os Conselhos Executivos e não podem ser apenas os professores por sua livre e expontânea vontade a tratarem desse tipo de assuntos administrativos e burocráticos que devem ser da competência dos órgãos próprios da escola...
Quanto ao Ministro da Ciência apenas o critico pelo facto de ter faltado completamente à verdade e omitido outras questões pertinentes que não só a Internet de banda larga...

Adkalendas disse...

Tem razão, felizmente não sou, hoje em dia, uma daqueles professores que saltam todos os anos de escola em escola.
Mas não sei porque razão os colegas mais novos pensam que isso só acontece agora a eles e que é uma coisa nova, mesmo que não seja o seu caso.
Hoje estou no quadro de uma escola, caro Miguel
Mas depois de 10 anos (dez...) a mudar de escola todos os anos! Em dez anos, 10 escolas (dez).
Por isso, sei bem do que fala o Miguel, e todos os que agora passam também por isso.
Este fenómeno existe há muitos anos e eu fui bem atingido por ele.
E não acho que tenha sido assim tão mau. Conheci muita gente nova, muitas escolas, muitas terras.
Hoje faz parte da minha bagagem cultural :)

Adkalendas disse...

Não quero ser do contra, é compreendo as vossas reservas.
O que me levou a participar nesta discussão tem a ver com o facto de ter sentido que consideram que o principal problema é a falta de equipamentos e que isso é responsabilidade única do Ministério.
É, e não é. Única não é. Conheço tantas escolas que se equiparam, e bem, tendo hoje várias salas com PCs. Outras que têm poucos.
Esta situação não terá a ver com a iniciativa dos próprios docentes, que numas escolas começaram a utilizar dinamicamente as máquinas e noutras ficaram à espera?
Precisamos de escolas com mais iniciativa.
Os Conselhos executivos têm um papel a desempenhar, mas se eu esperasse pelo C. Exec. da minha escola, ainda hoje estávamos à espera dos PCs. E hoje temos várias salas equipadas. Não foi por mim,, que sou insignificante.
Mas depois da primeira sala, vem a segunda, e a terceira, e às tantas, já ninguém perdoa que não haja.
É um processo di`nâmico que tem que começar pela própria escola, os docentes, apoiada pelo Ministério. O contrário é dar máquinas que ficam fechadas e obsoletas. Já vi muito disso acontecer...
É assim que eu vejo.

Pedro disse...

Caro fr, o teu contributo para o debate é de louvar e no aspecto a que te referes de que nem tudo deve passar pelo CE até estamos de acordo.
Mas, como tudo na vida, cada caso é um caso. E há escolas e escolas...

Elisa de Castro Carvalho disse...

Gostei de ler todos estes comentários e queria deixar aqui o meu contributo. Sou professora do projecto PAPI (Projecto de Acompanhamento Pedagógico da Internet) nas EB1 já há 2 anos e os meus dias são passados em várias escolas do Minho. De facto, nem todas as escolas estão ligadas à Internet... confronto-me com essa e outras situações todos os dias. Relativamente ao projecto, cada escola (ou turma) recebe a minha visita 4 vezes. Nessas visitas, os alunos aprendem a trabalhar com o processador de texto, fazem pesquisas na Internet, aprendem a enviar e a receber e-mails e no fim fazem um exame com vista à obtenção do Diploma de Competências Básicas em TI. Penso que este projecto tem muitas potencialidades que neste momento estão a ser mal aproveitadas. O projecto também se destina aos professores das turmas, mas a maior parte não demonstra qualquer tipo de interesse. São apenas 4 sessões... nada de extraordinário, mas parece que lhes "custa" aprender mais qualquer coisinha... Muitas vezes pergunto-me: se não há interesse então porquê aderir ao projecto?! Para ter 4 dias de descanso?! Falta a vontade...

PS - Parabéns pelo Blog.
Para saber mais sobre o projecto consultar a minha página pessoal:
http://elisacarvalho.no.sapo.pt

Jorge Moreira disse...

Muito bem!
Grande Abraço,