terça-feira, 14 de maio de 2013

Professores a mais não é o mesmo que professores mal distribuídos...

O DN noticiou que Passos Coelho afirmou, de viva voz, que "Portugal precisa de ter menos professores porque temos menos crianças e menos turmas". 
Quanto muito, poderá dizer-se que a distribuição de professores pelo país não corresponde a todas as reais necessidades em termos geográficos: com os crescentes fenómenos de litoralização e bipolarização populacionais é natural que haja docentes do quadro a mais no interior e falta deles no litoral. Ou seja, o problema é mais da má distribuição dos professores do que da sua contabilização. 
Daí que a falar-se de mobilidade se deva falar mais de mobilidade geográfica e não da famigerada mobilidade especial. 
Seria bom que Nuno Crato esclarecesse o Conselho de Ministros desta realidade, por forma a que não se continue a veicular a ideia de que, actualmente, Portugal tem professores a mais. É verdade que durante muitos anos tivemos professores a mais para as reais necessidades e capacidades financeiras do país, mas essa situação já não se verifica...
Com os pedidos de aposentação que estão à espera de resposta nos serviços da Caixa Geral de Aposentações e com aqueles que se esperam que continuem a entrar (a bom ritmo, dada a desilusão que grassa na classe docente) não faz qualquer sentido que o Governo continue a insistir na ideia de que há professores a mais. Poderá haver professores mal distribuídos pelo país face às reais necessidades, mas este problema combate-se com a introdução de mecanismos de mobilidade geográfica interna e não com a ameaça da desvinculação. É bom que os sindicatos saibam "esgrimir" estes números com a tutela em vez de andarem a brincar às caravanas...

9 comentários:

Santiago disse...

Eu diria bem mais do que esta afirmação tua : "É bom que os sindicatos saibam "esgrimir" estes números com a tutela em vez de andarem a brincar às caravanas..." Era bom que tu mandasses as tuas sugestões ao Passos Coelho que tenho a certeza que iria ouvir-te, não fosses tu da mesma cor política.
Essa tua defesa cega e desenfreada por políticas de contenção deu nisto. Espero que os teus contactos políticos te possam ajudar. Assim o espero.
Saudações geográficas,
Santiago

Pedro disse...

Caro Santiago,
o facto de sermos professores e, portanto, parte interessada na matéria, não nos pode condicionar na nossa opinião. Ou pelo menos não deve...
Há que fazer uma análise fria, racional e séria do assunto. Durante muitos anos vivemos acima das nossas reais possibilidades (o mesmo aconteceu na Educação). A contenção começou a ser efectivada no tempo de Maria de Lurdes Rodrigues e chegámos agora, do meu ponto de vista, ao limite do sustentável.
Os números são claros: a redução no número de professores é mais que evidente e chegámos a um ponto em que a contenção tem de ser feita por outros meios que não a da redução do número de professores.
Chegámos a ter 150 mil professores e agora devemos estar nos 110 mil. O número de pedidos de aposentação continua alto. Não faz sentido falar em mobilidade especial. Os sindicatos deveriam dar conhecimento destes números em vez de andarem a "brincar" às caravanas.
Quanto aos que continuam a pensar que tudo deveria estar como estava há 10 anos atrás (espero que não seja a tua opinião) é bom que percebam que foi esse tipo de pensamento que levou o país à bancarrota. As mudanças que se fizeram eram necessárias, mas chegámos ao limite... É isto que é necessário perceber e fazer perceber à tutela.

Santiago disse...

Eu concordo plenamente contigo em que não deve haver mais cortes na despesa do setor da educação. O Ministério já chegou também a esta opinião, logo não havendo mais por onde cortar, vão aumentar a carga letiva e acabar com a redução de antiguidade adquirida ao longo da carreira. Isto é corte camuflado. Trabalhar mais com menos salário. Eu não posso ficar contente com esta situação se tu ficas é porque achas que até agora ganhavas demais para o que fazias. O que o governo quer é simplesmente equilibrar as contas e despesas públicas à custa do empobrecimento dos orçamentos familiares. Eu não posso concordar em ter cada vez menos ordenado disponível para alimentar os meus filhos dado que não sou responsável pelo desnorte provocado por anteriores governações. Não devo ser chamado a pagar pelos erros de má gestão de dinheiros públicos. Quem não sente não é filho de boa gente.
Saudações geográficas,
Santiago.

Santiago disse...

Já agora que façam aos professores como vão fazer aos médicos. O aumento do horário semanal dos médicos implicou uma revisão da tabela salarial, ou seja mais horas de trabalho significa uma aumento do ordenado.
Saudações Geográficas,
Santiago

Pedro disse...

Caro Santiago,
no essencial estamos de acordo.
Não sei se o MEC já chegou à conclusão, como afirmas, que não há mais por onde cortar na Educação. Espero que sim, que tenha chegado a essa conclusão.
Quanto ao aumento da carga lectiva e o fim da redução por antiguidade, não sei o que nos espera. Sei que não há muito mais por onde mexer. A não ser na redução do número de professores contratados.
Quanto ao que dizes sobre o ganhar mais ou menos tendo em conta o que fazemos, a minha opinião é muito simples. Desde sempre que considero injusto que para a mesma função (leccionar) haja uma desigualdade salarial tão grande (a maior dos países da OCDE) entre o 1º e o último escalão…
Quanto a ser chamado a pagar pelos erros cometidos por má gestão de dinheiros públicos, não tenhas dúvidas que somos e seremos os primeiros a pagar as “favas”. É o mal de termos um “patrão” endividado e à beira da bancarrota.
Quanto aos professores e médicos, há uma diferença que nos penaliza: eles são poucos no público e muitos no privado (sem intenção de trabalharem no público) e nós somos muitos no público, a acrescentar a muitos outros que querem entrar no público, pelo que somos penalizados pela lógica da lei da oferta e da procura.

Isabel disse...

A mobilidade geográfica também não pode ser feita de qualquer maneira, mandando um professor de Vilar Formoso para Aveiro o como se fosse ali ao lado.

Anónimo disse...

Estou curioso para ver o que é que este militante laranja vai escrever sobre a greve às avaliações e exames

Anónimo disse...

Em 1º lugar, gostava de dizer à Isabel que o problema não é mandar um professor de Vilar Formoso para Aveiro. É que, ao contrário do que diz o Pedro, não há docentes do quadro a mais no interior e falta deles no litoral. É o oposto. Como a maior parte da classe docente é do litoral, sendo muitos obrigados a deslocarem-se para o interior porque o litoral está cheio que nem um ovo, cheio de professores que são de lá e por muitos do interior que preferem ir trabalhar e viver para lá, o que poderá acontecer é um docente de Aveiro ser "chutado" para Vilar Formoso, ou para outros sítios ainda mais remotos. Logo, a Isabel, caso seja do interior (como parecem indicar as suas palavras) pode dormir descansada, em relação a isso. O mesmo não podem dizer os seus colegas do litoral.
Quanto à questão dos professores estarem mal distribuídos, é óbvio que estão, e há muito tempo. Os QE das escolas do litoral estão cheios, os QZP das zonas do litoral estão ainda mais, pois é óbvio que não há vagas (reais) para todos os professores desses quadros. Já no interior, nem sempre as escolas têm todos os lugares de QE preenchidos, como acontece (por razões várias) na escola onde lecciono, e os QZP do interior também estão superlotados, mas neste caso porque não foi feita uma planificação adequada, havendo muitos que não são nem nunca foram necessários nesses QZP. O resultado disto é que o MEC tem "guardado na gaveta" horários em vez de os colocar a concurso, para evitar que haja tantos horários zero entre os QZP, mesmo que isso signifique a (tristemente clássica) ultrapassagem de docentes mais graduados, cujo único "crime" foi terem efectivado em QE. E a prova de que no interior não há professores do quadro a mais é a quantidade de professores contratados que por aí andam, que é muitíssimo superior à que se regista no litoral.

Pedro disse...

Caro anónimo(?),
não sei os números concretos de professores do quadro (QE`s e QZP`s) em risco de ficarem sem horário.
Mas, reflectindo um pouco e sabendo que cada vez há mais população no litoral e menos no interior (fenómenos da litoralização e do êxodo rural), não me admiro que, como diz a Isabel, haja, em termos percentuais, maior risco de haver professores a mais no interior do que no litoral.
Daí que não fique admirado que docentes vinculados em escolas do interior sejam "obrigados" a terem de se deslocar para o litoral. Mas, se a sua opinião é diferente, paciência...
De resto, concordo consigo. Tem havido, ao longo de muitos anos, incompetência da tutela no que diz respeito ao planeamento das necessidades de docentes e da colocação de horários a concurso. E a lógica de "guardar na gaveta" horários é inadmissível. Esperemos que isso não volte a acontecer este ano...
Quanto a haver mais colegas contratados no interior do que no litoral clique no link abaixo e vai ver a realidade:
http://www.arlindovsky.net/wp-content/uploads/2013/04/CE-at%C3%A9-15-Setembro.jpg