quinta-feira, 9 de maio de 2013

Uma mentira que urge ser rebatida. E pelo próprio...


No passado sábado, Marques Mendes cometeu uma enormidade (não sei se de propósito ou não!) ao comparar a evolução dos alunos do 1º ciclo registados entre 1980 e 2010 com a evolução verificada no número de professores de todos os ciclos de ensino no mesmo período de tempo.
Resolveu fazer a dita comparação através de dois gráficos colocados lado a lado, dando a ideia de que tem havido uma relação de proporcionalidade inversa quase directa: uma redução de 51% de alunos e um aumento de 53% de professores entre 1980 e 2010. 

A jornalista deixou passar esta ideia e, quer queiramos, quer não, a mensagem de Marques Mendes passou incólume, dado que a jornalista não o questionou sobre a asneira (propositada ou não!) que Marques Mendes tinha acabado de fazer. A verdade é que a ideia passada por Marques Mendes de que Portugal tem, actualmente, professores a mais (mesmo que apresentando valores de 2010 e comparando níveis de ensino incomparáveis) passou para a opinião pública e, como sabemos, o que se diz na televisão neste género de programas de comentário político tem maior capacidade de influenciar a opinião pública do que muitas conferências de imprensa que os sindicatos realizem no sentido de fazerem passar as suas opiniões.
Claro que, logo na segunda-feira, este foi um dos principais temas de conversa entre professores. Fosse nos blogues ou nos jornais, através de artigos de opinião, houve quem se indignasse com a prestação de Marques Mendes. Mas, a indignação não chega. A verdade é que a ideia veiculada por Marques Mendes passou na televisão, em horário nobre, e certamente que muitos milhares de portugueses que não ligam aos blogues de educação e que, sendo do privado, até têm algum "ódio de estimação" pelos professores (e não devem ser poucos!) se viraram agora contra os professores, acreditando nas palavras de Marques Mendes. Já não bastava termos de levar com o Miguel Sousa Tavares para agora termos de levar com as mentiras de Marques Mendes.
É que convém não esquecer que se em 2010 tivemos quase 140 mil professores ao serviço na Escola Pública (103 mil deles do quadro), este ano deve ter havido uma quebra de mais de 20 mil docentes (menos 5 mil do quadro, que entretanto se reformaram, e menos 15 mil contratados) em relação a 2010... 
E atenção que se analisarmos o actual número de professores a exercerem funções (cerca de 120 mil) com o número actual de alunos (quase 1 milhão e meio), o rácio vai dar qualquer coisa como 80 professores/1000 alunos (próximo da média da OCDE), valor bem inferior ao que apresentávamos em 2010 no estudo da OCDE "Education at a Glance" (de 112 docentes/1000 alunos) e que fazia de nós, em 2010, o país da OCDE com o maior rácio professores/alunos. 

Adenda: Marques Mendes voltou, como se exigia, a falar sobre o erro que havia cometido ao comparar o incomparável. É verdade que não pediu desculpas pela falha, mas, pelo menos admitiu o erro, ao corrigi-lo comparando, agora sim, dados comparáveis. Claro que faltou uma análise mais profunda sobre a evolução ocorrida no número de alunos e de professores entre 1980 e 2010, nomeadamente ao nível das causas. E, claro que a omissão à evolução tida entre 2010 e 2013 é grave. Mas, pelo menos não fez de conta que não tinha ouvido as críticas que lhe foram feitas.

2 comentários:

bibónorte disse...

Haja coragem de chamar os bois pelo nome.Gostei:)

Unknown disse...

Espere sentado...