
Há quem critique a professora pela atitude tomada, num gesto que evidencia a clara perda de paciência e/ou a falta de capacidade da docente para gerir situações difíceis ocorridas com os alunos.
Há também quem compreenda a atitude da docente e critique os pais do miúdo por não saberem dar educação à criança, preferindo a atitude de se queixarem em vez de o repreenderem. Alguns chegam a elogiar a professora e compreendem a sua atitude, como um gesto de desespero, numa lógica de "coitada, perdeu a cabeça" ou "podia acontecer a qualquer um de nós".
Escuso-me de elogiar ou criticar qualquer uma destas posições. Isso seria demasiado fácil, embora, entre as suas análises, me incline claramente para a primeira posição. Contudo, não há nada como saber toda a história, do princípio ao fim e, nomeadamente, os seus antecedentes para avaliar todo o caso.
No entanto, penso que seria mais importante que se fosse para além do óbvio: a condenação ou a defesa da professora.
Cada vez mais se nota que os problemas de âmbito disciplinar acorrem em anos de escolaridade mais baixos. Se há uns anos atrás era no 3º ciclo que ocorriam a maior parte dos problemas ao nível das atitudes (era aquela a que se apelidava a idade da "parvalheira"), nota-se, cada vez mais, que a rebeldia surge numa idade mais precoce. Assim, torna-se imprescindível que a sinalização (e consequente intervenção) dos casos mais complicados ocorra logo nos 1º e 2º ciclos.

No início da semana, Eric Hanushek, um especialista em Economia da Educação afirmava no Público que os professores “devem ser responsabilizados pelo desempenho dos alunos”, omitindo a diversidade de turmas que um professor pode ter. Um professor pode ser excelente com bons alunos e ser um completo desastre com alunos de um CEF. O oposto também pode acontecer. Se para uns casos o conseguir excelentes notas é o mínimo dos mínimos, para outros o sucesso está em evitar o abandono escolar e conseguir captar a atenção dos alunos para o que se ensina na sala de aula...
No dia seguinte, o Público trazia outra notícia da Educação: "Comissões de protecção acompanharam mais crianças e jovens: 69 mil, em 2012. Registaram-se mais 27 mil novos casos. E disparou o número de jovens que se colocam a eles próprios em perigo". A prova de que cada vez é mais difícil ser-se professor e que, portanto, os tempos do professor "debitador" de matéria já lá vai... Torna-se cada vez mais evidente que, para muitos casos que nos chegam à escola, a aposta na "formação" e na "educação" é mais decisiva do que a mera transmissão do conhecimento.
Nos últimos cinco anos lectivos tive sempre pelo menos uma turma do CEF, do profissional ou do PCA. E, em todas estas turmas vi situações que há uns anos atrás daria origem à solução mais simples, mas mais errada: o abandono precoce da escola. Agora, aqueles que saíam da escola com 13 anos (ou até menos) ficam por cá até aos 18, 19, 20 ou até mais anos e a grande vitória para qualquer professor destes alunos é conseguir resgatá-los para a adopção de atitudes correctas e para a aprendizagem de um ofício. Tarefa hercúlea...
Assim, é importante que as escolas apostem (e para isso têm de ter meios para tal) não só no diagnóstico precoce de situações complicadas, mas também no apoio e na intervenção especializada destes casos. A função do professor-tutor é, nos dias de hoje, decisiva. Por outro lado, a formação dos professores para saberem actuar neste tipo de casos deve ser uma preocupação das próprias escolas e do Estado...