quinta-feira, 27 de outubro de 2005

A greve não é solução

Pela primeira vez, nos últimos anos, os principais sindicatos portugueses da educação resolveram marcar, de forma unânime, uma greve geral de professores e educadores para o próximo dia 18 de Novembro, uma sexta-feira, como não poderia deixar de ser...
Ora, a questão que coloco é a seguinte: será que a melhor resposta para se demonstrar descontentamento pelo trabalho desenvolvido pela actual equipa ministerial é, precisamente, não trabalhar durante um dia? Definitivamente, não sou apologista deste tipo de acções contestatárias...
Tenho a plena convicção de que este Governo responsabiliza os professores pelo enorme insucesso escolar que predomina em Portugal. Vai daí, "acusando" a classe docente de laxismo, irresponsabilidade e inércia, o actual Ministério da Educação, tem vindo a apostar na aplicação de uma série de medidas que visam aumentar o número de horas de trabalho dos professores e educadores nas escolas, ao mesmo tempo que limita um conjunto de direitos até aqui considerados como invioláveis pela classe docente. Quanto às medidas que, efectivamente, poderiam combater o insucesso escolar pouco ou nada se tem visto. Os programas curriculares continuam os mesmos, as cargas horárias dos alunos em vez de diminuírem parecem aumentar, o número de alunos por turma continua elevado... Isto já para não falar da desmotivação que grassa pela classe docente.
Mas, poder-me-ão perguntar: qual a solução? Pois bem, tenho para mim a ideia muito clara que a convocação de uma greve geral da educação apenas terá como consequência imediata a descredibilização da classe docente, com a maioria da opinião pública a contestar esta greve ao trabalho. Por outro lado, este parece-me ser um Governo que não se deixa "afectar" por greves. Veja-se o que se passou com as greves na Justiça (desde juízes a funcionários judiciais), alvo de contestação pela opinião pública em geral...
Continuo a pensar que a existência de uma Ordem dos Professores, impulsionadora da elevação da exigência e da credibilidade na nossa classe profissional, poderia ser um ponto de partida importante para que a sociedade civil tivesse uma opinião mais favorável relativamente à classe docente. Por outro lado, uma Ordem dos Professores credível seria vista de uma outra forma pelo Governo, ao invés do que acontece agora, em que os sindicatos, afectos a partidos políticos, deixam de ser levados a sério...
Em suma, greves ao trabalho para reivindicar melhores condições de trabalho não me parece ser o caminho a desbravar. Credibilidade e exigência são factores-chave que ainda faltam a uma parte significativa da nossa classe profissional...

3 comentários:

Anónimo disse...

Opiniões...

Acilina disse...

Vim aqui ter quando estava à procura de blogs sobre educação. O que tenho a dizer não tem nada a ver com este post. É simplesmente um pedido de ajuda a quem está mais ligado ao Ensino Secundário. Conheço uma menina recém-licenciada em em Línguas e Literaturas Modernas- variante de Português/Francês, que foi ontem colocada, mas vai ter de leccionar "Comunicação e Difusão" ao 12º ano. Está em pânico porque não há livro, nunca estudou isto, não sabe resolver os exames que os alunos terão de resolver... Alguém pode ajudar? Ou alguém conhece alguém que conheça alguma bibliografia sobre o assunto?
Agradeço que todas as contribuições me sejam enviadas para: homoclinica@yahoo.com
Obrigada:)

Anónimo disse...

Ora cá está um tema em finalmente estamos em absoluto acordo.
Discordo com esta forma de protesto e do meu ponto de vista, a solução é provar que o gorverno não está certo investindo em atitudes positivas para fazer face aos problemas.
Tão simples como fazer um levantamento dos problemas mais unânimes, seleccionar uma lista dos mais importantes e de maior impacto e para cada um deles, uma lista de acções para os combater... Não, não é complicado. E se o é, permitir rolar, esperando que o governo tome medidas para que sejam postas em causa e contestadas só intensifica o caus e nos afunda na espiral de descontentamento.
Levante-se a cabeça, dê-se voz a quem de direito (professores) e que a Ordem destes trabalhe activa e construtivamente nos assuntos que mais lhes dizem respeito.
Vejamos o governo como um suporte e criador de condições e não como "quem nos vai ter de tirar desta alhada", e o actores deste (que não mais são que burocratas com poder decisório em pastas para as quais estão a maioria das vezes mal preparados) como pessoas que temos de ajudar a decidir pelo melhor no que a nós - não falo nós como classe docente pois dela náo faço parte - diz respeito.
O que proponho são medidas universais que se aplicam em qualquer situação se bem que idealmente numa perspectiva de afinal/melhorar/optimizar o bem de que se dispõe... Se bem que o "bem" (no sentido de coisa boa) talvez não exista.